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Publicado por em maio 25, 2016 em Artigos |

A Arte de Vera e Glauco, por Thomás Boeira

Tormenta e Glauco do Brasil são trabalhos que dialogam bem um com o outro. Lançados recentemente e de forma discreta nos cinemas, os documentários dos diretores gaúchos Lucas Costanzi e Zeca Brito têm como objetivo contar, à sua própria maneira, as trajetórias da artista plástica Vera Tormenta e do pintor Glauco Rodrigues. Com suas respectivas virtudes, os documentários se revelam um resgate histórico interessante sobre dois artistas admiráveis do cenário nacional.

tormenta1No comando de Tormenta, Costanzi tem pleno acesso à própria biografada, detalhe que até ajuda na construção narrativa do filme. Aos 84 anos, Vera Tormenta exibe disposição e entusiasmo invejáveis para continuar seus trabalhos e compartilhar sua história de vida. E isso encontra ressonância no próprio interesse do diretor na profissional que está à sua frente, conseguindo assim montar uma narrativa interessante mesmo que o filme acaba sendo relativamente curto (apenas 50 minutos de duração).

Através de cartas e de entrevistas não só com Vera Tormenta, mas também com várias pessoas que tiveram a sorte de conhecê-la e de conviver com ela em algum momento, Lucas Costanzi consegue fazer um retrato bastante eficiente da artista e de como ela construiu sua carreira. Assim, vemos desde certas barreiras que ela quebrou (como a história sobre os nus artísticos em Paris) até o que teria aprendido e as coisas que a inspiram quando se coloca diante da tela vazia. Cada ponto da história da biografada é bem abordado durante o filme, cuja narrativa flui muito bem e conta com um charme até natural da realidade de Vera Tormenta.

Já em Glauco do Brasil, ter ainda vivo o artista que é o centro de sua obra é uma sorte que Zeca Brito, claro, não tem (Glauco Rodrigues faleceu em 2004). Sendo assim, o diretor monta seu filme principalmente a partir de lembranças, sejam àquelas que vêm dos entrevistados ou das imagens de arquivo, o que inclusive torna a narrativa bastante saudosista. Aliás, é impossível não destacar aqui a pequena conversa que Brito teve com Glauco Rodrigues quando mais jovem e que ele mesmo filmou, como se já pudesse prever que iria a fazer o documentário. A partir desses aspectos, é notável a importância que o pintor tem para as pessoas vistas ao longo do filme, sendo que em determinado momento, por exemplo, vemos Gilberto Chateaubriand dizer que se mataria caso algo acontecesse com as obras de Rodrigues que ele adquiriu para sua coleção.

18219696Mas o principal em Glauco do Brasil é que, com o material que adquire, Zeca Brito gradualmente deixa claro quem foi o biografado e como ele optou por andar por um caminho em que fosse possível viver daquilo que gostava de fazer, algo mostrado com propriedade através das imagens de arquivo que trazem falas do próprio Glauco Rodrigues. Em meio a isso, o diretor não se esquece de incluir a visão de mundo do artista, aspecto que se fez presente em várias de suas obras e que rendem interpretações tão belas quanto os trabalhos em si. Isso é ainda mais interessante quando vemos que Rodrigues trabalhou ativamente durante a Ditadura Militar, fazendo composições que retratavam em suas sutilezas um pouco da realidade do Brasil.

No decorrer de suas narrativas, tanto Tormenta quanto Glauco do Brasil provam ser produções que aproveitam maravilhosamente a riqueza cultural de seus biografados. Dessa forma, Lucas Costanzi e Zeca Brito concebem obras que captam o interesse do espectador ao mesmo tempo em que conseguem fazer jus a importância dos artistas que retratam.