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Publicado por em jun 2, 2018 em Artigos |

Curtas-metragens do Fantaspoa 2018

O crítico Adriano de Oliveira, do site Cine Revista, integrou o Júri da Accirs de Curtas-Metragens no Fantaspoa 2018. Ele faz, aqui, uma análise dos filmes concorrentes nesta categoria.

Cerca de meia centena de curtas competiram na edição 2018 do Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre, Fantaspoa. Algo que chamou a atenção foi a excelência da produção de boa parte dos títulos concorrentes.

The Garden of Delights

O mexicano El Jardín de las Delicias (The Garden of Delights)

Na categoria animação, começamos destacando duas obras mexicanas. Uma é o frenético Ascension. Outra, o esfuziante El Jardín de las Delicias (The Garden of Delights), que prima por suas cores vibrantes, traços dinâmicos, trilha sonora característica e uma nada inocente história. Bem mais sisudo e melancólico, o espanhol Dead Horses toca profundamente nas feridas da Guerra Civil Espanhola; vista pelos olhos de seu protagonista, um menino em meio ao conflito, possui amarga e pungente força. Com ligeira influência do longa Robôs, da década passada, e um bocado de emotividade, o belo curta francês Lazare possui peculiar encanto.

As produções brasileiras surpreenderam pela diversidade temática, indo de filmes bastante engajados com o fantástico – como o pesado Rosalita – até títulos menos comprometidos com essa vertente –  caso de Para Salvar Beth e suas veias social e dramática. Exemplo de produção realizada à perfeição e com os dois pés no mercado externo, Children of the Cosmos é curta brasileiro de ficção falado totalmente em inglês e com qualificado apuro visual.

Pernambucano Casa Cheia

Pernambucano Casa Cheia

O pernambucano Casa Cheia conjuga uma história bem desenvolvida com produção deveras competente: um prato cheio. Casulos, feito todo por apenas duas pessoas (incluindo equipe e elenco!), mostra o poder da criatividade na realização. E cabe uma nota para a rebuscada fotografia de O Bosque dos Sonâmbulos, um notável musical de beleza e mistério.

A chamada live action internacional também possui bons exemplares. Constituem exemplos de produções de alto nível os espanhóis Scratch e Caronte, a coprodução multinacional The Troubled Troubadour e o bósnio Azdaja (este, um misto de animação e atos reais), entre outros. O lituano Möbius Bond, carregado de uma aura de estranhamento, apresenta um visual cyberpunk e fascina. O humor de María Fernanda in Time, um curta catalão, se mostra notável. O capricho em todos os quesitos do britânico The Sound arrebata o espectador. Constituído essencialmente de fotografias e dotado de voz over – recordando em parte um patrício seu, o seminal curta La Jetée (1962) do saudoso Chris Marker –, o francês La Fuite (A Fuga) surpreende.

Sem dúvida, a mostra de curtas-metragens do Fantaspoa conseguiu traçar um panorama não apenas amplo do cinema do gênero fantástico –  mas, especialmente, qualificado.