A Velha dos Fundos
Por: Chico Izidro.
A solidão numa grande metrópole como Buenos Aires foi muito bem analisada no romântico “Medianeras”. O tema volta à tona, desta vez tendo uma velhinha solitária e um estudante de medicina azarado no melancólico “A Velha dos Fundos”, direção de Pablo José Meza. O filme não é de fácil assimiliação. Nos primeiros 15 minutos, o silêncio só é quebrado pelo cantar de um canário. E vemos o cotidiano de Rosa (a excelente Adriana Aizemberg). Ela faz seu chá com leite, come uma bolacha, se arruma e sai. E assim repete-se todos os dias. No apartamento em frente mora Marcelo (Martín Piroyansky), estudante de medicina que ganha uns trocados distribuindo folhetos pelas movimentadas ruas de Buenos Aires. De um dia para o outro, Marcelo fica sem ter como pagar o aluguel e é despejado. O que resta é retornar para a casa dos pais, no interior. Até que a vizinha silenciosa vem em seu socorro. A proposta de Rosa é simples: Marcelo pode ficar no apartamento dela, sem pagar aluguel e comida, com uma condição: ele deve fazer companhia para ela. Estar lá todas as noites para conversar. Nem que seja por meia-hora. No começo tudo dá certo. E ele até arranja um interesse amoroso e um outro bico. Mas logo as coisas começam a degringolar, pois vão surgindo as diferenças irreconciliáveis de Rosa e Marcelo. E é interessante ver este embate entre os dois. Cujos interesses são distintos, a velha começa a tratar Marcelo às vezes como um filho, às vezes como um marido que não liga ao voltar para casa. “A Velha dos Fundos” trata da solidão, do desencanto por estes dias cruéis, em que cada um tem de se virar como pode, muitas vezes sem a ajuda do próximo. Os dois atores centrais, Adriana Aizemberg e Martín Piroyansky trabalham naturalmente e seus rostos, sofridos, são propícios para o tipo de trama a que se propõe o filme.