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Publicado por em jun 7, 2017 em Artigos |

As máscaras em que vivemos

Por Renato Cabral, especial para o site da Accirs

A complexidade das relações entre pais e filhos não é novidade em qualquer cinematografia, seja ela americana, brasileira ou, como neste caso, a alemã. Novidade, talvez, seja a abordagem e visão desse tipo de relacionamento, o qual a diretora e roteirista Maren Ade apresenta de maneira tão excepcional em Toni Erdmann (2016), um drama familiar alemão travestido de comédia.

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Ines (Sandra Hüller) é uma mulher difícil, gélida e distante. Executiva de negócios e muitas burocracias, sua vida parece fundamentada no trabalho. Distanciada da família, esse mundo perfeito e asséptico que ela desenvolveu para manter essa lonjura é colocado em xeque com a visita de seu pai, Winfried (Peter Simonischek). Ele é extrovertido e nada sisudo. Mas parece representar um passado irregular, sem decisões e seriedade que Ines tanto almeja. Chutado pela filha, Winfried retorna tempos depois como seu alter-ego, Toni Erdmann, um mentiroso compulsivo. Subentende-se uma missão de Winfried em trazer uma certa ternura e leveza aos dias da filha e mostrar que falta algo em seus dias. Ela reluta constantemente, óbvio.

Os filmes de Ade, em sua essência, tratam da solitude de seus personagens em ambientes diversos, seja como um casal (Todos os Outros, 2009) ou em seus ideais (The Forest of the Trees, 2003). Aqui, em Toni, é desenvolvido o mesmo aspecto, mas de uma maneira em que os personagens se isolam em seus extremos sem perceber que o desenvolvimento de ambos seria muito mais sadio se houvesse um equilíbrio na relação. É como se a personagem de Hüller, decidida a se portar em sua independência, abdicasse instantaneamente das relações em que possa se anular, sejam com o pai ou até mesmo com o namorado. O humor é trazido de uma maneira que inicia doce e se desenvolve para um amargor e melancolia.

Em uma das cenas finais, e mais memoráveis, Ines canta “Greatest Love of All” em uma reunião familiar, a canção que foi popular entre o final dos anos 70 e 80 nas vozes de George Benson e Whitney Houston, no ato da personagem parece um grito desesperado e que reflete de maneira intensa através da letra, composta por Linda Cree e Michael Masser, quem é Ines. Ao se colocar em primeiro lugar, ela criou uma máscara de amargura, como se não fosse possível amar mais ninguém além de si própria. É como se a personagem de Hüller, decidida a se portar em sua independência, abdicasse instantaneamente das relações sejam com o pai ou até mesmo com o namorado. É uma batalha interna constante. A chegada do pai, repleto de máscaras (literalmente), abala essa estrutura que parecia tão sólida à superfície, mas que no âmago é tão frágil e melancólica.