Caro Francis
por Chico Izidro
Paulo Francis foi, talvez, o mais importante e polêmico jornalista brasileiro da história. Morto em fevereiro de 1997, em pleno carnaval, ele ainda mantém uma enorme gama de fãs e detratores. Em Caro Francis, Nelson Hoineff (que criou o Documento Especial – quem não se lembra daquele programa jornalístico-sensacionalista da extinta Rede Manchete?), relembra a trajetória do jornalista, usando imagens de arquivo e também depoimentos de amigos e da esposa, Sonia Nolasco. E é aí que o documentário tropeça, pois é por demais concedente com Paulo Francis. Ele é mostrado quase como um santo, protetor dos fracos e desempregados e amante dos animais. Mas falta o outro lado. Mesmo a parte em que é lembrada a polêmica com o ombudsman da folha de S. Paulo, Caio Túlio Prado, em 1990, Francis é visto mais como vítima, enquanto que o ombudsman é taxado de lagartixa por Diogo Mainardi.
Francis começou a carreira como crítico de teatro e comunista. Depois da passagem pelo Pasquim, acabou preso pelo regime militar e em 1972 foi morar em Nova Iorque, sua base por mais de duas décadas e deu uma grande guinada para a direita. E também acabou transformando-se em correspondente da TV Globo, onde criou um personagem quase caricato, que lhe deu fama nacional. E dinheiro, pois no auge de sua carreira chegava a receber cerca de 20 mil dólares mensais… para os padrões brasileiros…
E foi pelo dinheiro que acabou morrendo, em virtude de um processo de 100 milhões de dólares movido pela Petrobras contra ele, que havia feito acusações infundadas contra a diretoria da estatal.
Caro Francis, no entanto, vale por resgatar trajetória tão impar da imprensa brasileira. Passados 13 anos de sua morte, ainda não apareceu jornalista que conseguisse superar o mestre das polêmicas no finado Diário da Corte (coluna que ele manteve na Folha de S. Paulo e depois no O Estado de S. Paulo nas décadas de 1970, 80 e 90).