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Publicado por em fev 3, 2019 em Artigos |

A opressão invisível em Arábia

A opressão invisível em Arábia

Por Leonardo Bomfim, especial para o site da Accirs O retrato da esquerda em crise, em filmes contemporâneos e de outros tempos, marcou várias sessões da já distante edição de 2017 do BAFICI, Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires. Naquele momento, alguns dias na Argentina, ao lado de pessoas de vários cantos da América Latina, deixaram bem claro: compartilhamos a mesma saúde dos doentes. E se as pessoas adoecem, por que os filmes não adoeceriam? Mas felizmente surgiram alguns sinais de vida entre tantos lamentos e narrativas desoladas (o homenageado foi Nanni Moretti, com direito a sessão histórica de Palombela Rossa, a obra-prima definitiva sobre a crise de identidade da esquerda no final dos anos 1980, momento que me parece decisivo ainda hoje para compreendermos os nossos fracassos). A esperança nesse BAFICI curiosamente surgiu de dois países que não estão no mapa de qualquer expectativa positiva para o futuro num sentido social: China e Brasil. We the Workers e Arábia. As duas obras têm a petulância extremamente...

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Publicado por em fev 3, 2019 em Artigos |

Atualidade de As Boas Maneiras

Atualidade de As Boas Maneiras

Por Leonardo Bomfim, especial para o site da Accirs Poucos filmes contemporâneos são tão radicais em sua estrutura como As Boas Maneiras, essa extraordinária história de amor(es) e horror(es) realizada por Juliana Rojas e Marco Dutra. Se o filme dividido em dois é uma marca do nosso tempo (aparece em filmografias essenciais do século 21: David Lynch, Apichatpong Weerasethakul, Miguel Gomes, Hong Sang-soo, José Luis Guerín…), aqui encontramos uma abordagem particular. Nesses filmes, geralmente uma nova ficção surge a partir de uma interrupção brusca. Histórias sem fim dão lugar a outra história, que muitas vezes re-contextualizam o que já vimos, estabelecendo novas regras, novos jogos, novas perspectivas. Vale o dito de um dos sete anões de A Cara que Mereces (2005), o longa de estreia do português Miguel Gomes: “para ouvir uma história é preciso ter paciência com as novas histórias que surgem antes do fim”. O caso mais extremo entre os citados é o de Certo Agora, Errado Antes (2015), de Hong Sang-soo: antes mesmo de um desfecho...

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Publicado por em fev 3, 2019 em Artigos |

Trama Fantasma

Trama Fantasma

Por Rodrigo de Oliveira, publicado na revista eletrônica Almanaque21: Oscar 2018, em fevereiro de 2018. Vencedor de três Oscar, Daniel Day-Lewis anunciou aposentadoria da carreira artística depois desta sua segunda colaboração com Paul Thomas Anderson, o climático Trama Fantasma. Não se sabe se isso realmente se confirmará, visto que o ator já anunciou anteriormente que pararia de trabalhar e retornou, mas tudo indica que vimos o último filme estrelado por Day-Lewis. Como poderíamos imaginar vindo do diretor de Sangue Negro – a outra colaboração entre os dois artistas, que rendeu ao ator seu segundo Oscar e a primeira indicação ao cineasta – o filme é sublime e é uma despedida maiúscula de um dos maiores atores que já passou por Hollywood. Curiosamente, Day-Lewis revelou que não assistiu ao filme finalizado, devido à tristeza que se apossou dele durante as filmagens e que o levou a abandonar a carreira. E ele não deve estar exagerando, visto que Trama Fantasma é um passeio pesado na psique de um estilista prepotente e de...

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Publicado por em fev 3, 2019 em Artigos |

O gabinete do Doutor Montanari

O gabinete do Doutor Montanari

Por Paulo Daisson Casa Nova, especialmente para o site da Accirs Yoñlu, longa ficcional de Hique Montanari sobre a vida e morte do compositor porto-alegrense Vinícius Gageiro Marques que se suicidou em 26 de julho de 2006, tem uma característica comum aos filmes realizados por este cineasta de tantos documentários: a meticulosidade obsessiva com os detalhes. Cito alguns: como roteirista, realizou nada menos que doze tratamentos do roteiro em dez anos de produção do filme; como produtor, tratou os pais de Yoñlu com o respeito e o profissionalismo que o tema exigia; como diretor, o cuidado em contar uma narrativa sem barrigas, ou seja, sem rodeios. Mas Montanari aparece com uma qualidade a mais: a confiança. É evidente seu compromisso com o filme e com o protagonista. Não há no filme espaço para sentimentalismo ou sensacionalismo e, no entanto, o filme flui em sentimentos e imagens sensacionais. Me vem à memória enquanto escrevo a subida de Yoñlu pelos morros de Porto Alegre vestido como astronauta. Montanari é confiante também...

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Publicado por em fev 3, 2019 em Artigos |

O terror social em As Boas Maneiras

O terror social em As Boas Maneiras

Por Ivonete Pinto, artigo inédito, especialmente publicado pelo site da Accirs Com lobisomem sertanejo, Juliana Rojas e Marco Dutra inventam um terror brasileiro, pleno de elementos para pensar o País, tanto quanto o expressionismo pensou a Alemanha. No clássico De Caligari a Hitler, Siegfried Kracauer afirma que os filmes derivados do O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1919) acentuam o surgimento de impulsos desordenados em um mundo caótico. Ele os chamou de “filmes de instintos”. Abarcando outros títulos, em especial os roteirizados por Carl Mayer, Kracauer encontrou nas obras traços comuns, onde se sobressaem personagens representantes da pequena burguesia, criaturas oprimidas e atormentadas, incapazes de sublimar seus instintos. Os filmes do expressionismo alemão, em que podemos incluir o tardio (para fins de delimitação da escola) M, o Vampiro de Dusseldorf (Fritz Lang, 1931), trabalhavam com o horror, que florescia justamente num momento de transição da sociedade, no caso, a alemã pós guerra, e que vivia em profunda crise econômica e moral. O medo era o sentimento que predominava e...

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Publicado por em fev 2, 2019 em Artigos |

A melancolia de Yoñlu

A melancolia de Yoñlu

Por Jaqueline Chala, crítica radiofônica transmitida no programa Na Trilha da Tela, da Rádio FM Cultura, 107.7, de Porto Alegre Yoñlu foi um dos grandes lançamentos do cinema gaúcho em 2018. A cinebiografia deste jovem, que terminou tragicamente com a própria vida em 2006, num episódio envolvendo os fóruns anônimos da internet, é uma narrativa que procura não apenas resgatar a obra artística de seu biografado, mas também dar a compreensão de sua personalidade. Através de vários artifícios de encenação e de filmagem,Yoñlu é eficiente ao nos transportar ao mundo de seu personagem. Yoñlu foi o pseudônimo artístico assumido por Vinícius Gageiro Marques, garoto precoce nascido em Paris, filho de pais intelectuais que estudavam na França. Proficiente em várias línguas, como inglês, francês e galês, Vinícius aprendeu música cedo e conviveu desde pequeno com a literatura e as artes. Aqui no Brasil, ele mantinha um estúdio em casa, onde gravava suas músicas e fazia seus desenhos. É neste universo particular que a trama de Yoñlu se desenrola na maior parte do tempo. Além...

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