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Publicado por em jul 12, 2017 em Artigos |

Permanência e mobilidade em Mulher do pai

Permanência e mobilidade em Mulher do pai

Por Danilo Fantinel, especial para o site da Accirs Permanência e mobilidade duelam incessantemente em Mulher do pai, filme que expõe as contraposições e complementaridades entre homem e mulher no contexto micropolítico do cotidiano familiar. No primeiro longa da diretora Cristiane Oliveira, uma avó morre deixando seu filho adulto, cego e solteiro, aos cuidados de sua filha adolescente, na fronteira brasileira com o Uruguai. A promessa velada de renovação do ciclo que garantiria ao pai a assistência filial quebra-se quando a menina deixa aflorar seus próprios desejos, vontades e planos. Bronco, Ruben (Marat Descartes) tem problemas para se relacionar com o local onde mora e com as pessoas com quem convive. Sua cegueira fisiológica reflete também cegueira social, falta de visão de mundo, apagamento comunitário, inabilidade familiar – condição essa que o afastou de sua filha, de quem agora depende e com quem mal conversa. Confinado em casa, Ruben é flagrado em cenas duais pela fotografia do filme, que por um lado o enquadra perto de janelas e portas...

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Publicado por em jul 12, 2017 em Artigos |

Longe demais das capitais

Longe demais das capitais

Por Chico Izidro, especial para o site da Accirs A vida de uma adolescente em uma cidadezinha na fronteira do Brasil com o Uruguai é o tema de  Mulher do pai, dirigido pela gaúcha Cristiane Oliveira. É uma obra sensível e extremamente comovente, mostrando ainda o desalento que é viver num local distante e afastado – e isso é constantemente lembrado pelos seus personagens. Até lembrei agora da música dos Engenheiros do Hawaii, Longe demais das capitais. A garota Nalu (Maria Galant) vive com a avó e o pai cego Ruben (Marat Descartes) numa casa afastada de um vilarejo. A vida dela é radicalmente afetada quando a avó morre e Nalu passa a ter a incumbência de cuidar do pai. E os dois são quase como estranhos. Não se falam, e quando o fazem é agressivamente. O destino de Nalu, que estuda no segundo grau, é virar tecelã, assim como o pai, que vive de uma pensão do governo e do pouco que consegue vender de suas peças no...

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Publicado por em jul 11, 2017 em Artigos |

Delicadeza de uma relação difícil

Delicadeza de uma relação difícil

Por Fatimarlei Lunardelli, especial para o site da Accirs Não importa a geografia, não importam os valores que determinam uma cultura, são as experiências comuns à espécie que nos fazem iguais como seres humanos. Em torno de uma dessas experiências, o despertar da sexualidade, se desenvolve Mulher do pai (2016). Estreia na direção de longa-metragem da roteirista e produtora Cristiane Oliveira, o filme surpreende ao mudar a chave do discurso comum sobre o desejo sexual. O tema é abordado numa conjugação delicada entre o desenvolvimento da história e o tratamento visual e sonoro da linguagem. Num ambiente fronteiriço, numa cidade pequena em que pouco há para distrair os jovens, a vida da adolescente Nalu (Maria Galant) parece se precipitar quando morre a avó com a qual ela e o pai cego (Marat Descartes) viviam. A velha cuidava de tudo. A vulnerabilidade daquele homem deficiente e sem ânimo para a vida parece destinar a jovem a ocupar o papel de administradora da casa, a tornar-se mulher por força de circunstâncias...

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Publicado por em jun 22, 2017 em Artigos |

Divinas é estreia premiada da cineasta Houda Benyamina

Divinas é estreia premiada da cineasta Houda Benyamina

Por Conrado Heoli, publicado no site Papo de Cinema em 14 de janeiro de 2017 – Filme vencedor dos prêmios Fipresci em 2016 no Carthage Film Festival e Dubai International Film Festival Vencedor do Câmera de Ouro em Cannes, prêmio destinado ao melhor filme de estreia de um realizador, Divinas (Divines) é um retrato contundente e arrebatador, assinado pela franco-marroquina Houda Benyamina, sobre aspirações, amizade, feminilidade e a vida às margens legais, sociais e culturais. Temas complexos que poderiam render um ensaio duro, ainda mais porque centrados numa personagem que transita no confuso espaço entre infância e juventude. Contudo, este drama é perpassado por inesperados momentos cômicos e ternos, ainda que se encaminhe para uma conclusão inevitavelmente terrível. Dounia (Oulaya Amamra) vive com sua mãe nos arredores de uma Paris que não é lá muito cinematográfica, numa comunidade improvisada de casebres insalubres e amontoados – espécie de favela francesa. Ela frequenta a escola ocasionalmente, quando trava acalorados debates com sua professora sobre um futuro que parece não lhe pertencer, e...

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Publicado por em jun 8, 2017 em Artigos |

O ogro vem da Alemanha

O ogro vem da Alemanha

Por Roger Lerina, publicado no jornal Zero Hora em 11 de fevereiro de 2017 Ainda que a comédia não seja um gênero exatamente associado pelo nosso público ao cinema da Alemanha – a escassez desse tipo de filme na programação local reforça essa impressão –, alguns dos maiores comediógrafos das telas tiveram origem germânica, como o alemão Ernst Lubitsch (1892 – 1947) e o austríaco Billy Wilder (1906 – 2002). O mais novo expoente dessa subestimada linhagem é Toni Erdmann (2016), produção austro- alemã que chega ao Oscar como favorita na categoria de filme estrangeiro depois de ter arrebatado dezenas de prêmios internacionais, inclusive o da crítica no Festival de Cannes – finalista também ao Globo de Ouro, perdeu o troféu para o igualmente ótimo Elle (2016). Terceiro longa da diretora, roteirista e produtora Maren Ade, Toni Erdmann é uma característica comédia alemã agridoce, que provoca tanto o riso quanto a reflexão, filiando-se a uma tradição de crítica social de teor satírico exercitada por cineastas como Rainer Werner Fassbinder...

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Publicado por em jun 7, 2017 em Artigos |

Toni Erdmann

Toni Erdmann

Por Thomás Boeira, especial para o site da Accirs. É raro encontrar obras que sejam adoradas de maneira absolutamente unânime pelas pessoas. Isso é até óbvio, mas inevitavelmente me veio em mente enquanto assistia a este Toni Erdmann, longa escrito e dirigido por Maren Ade. Afinal, quando o filme chegou num determinado ponto de sua história, um grupo de pessoas se levantou e saiu do cinema, como se ele tivesse esgotado a paciência delas. É algo até compreensível considerando o senso de humor incomum da narrativa, de forma que aquilo que alguns viam como divertido (e já admito que faço parte deste grupo), para outros talvez fosse uma coisa boba ou simplesmente chata. E duvido que prêmios em Cannes ou indicações ao Oscar possam mudar isso. No filme, Peter Simonischek vive Winfried Conradi, um professor de música que decide ir de surpresa até a Romênia para passar um tempo com a filha Ines (Sandra Hüller), a fim de se reaproximar dela. No entanto, o momento não poderia ser mais...

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