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Publicado por em jun 7, 2017 em Artigos |

As máscaras em que vivemos

As máscaras em que vivemos

Por Renato Cabral, especial para o site da Accirs A complexidade das relações entre pais e filhos não é novidade em qualquer cinematografia, seja ela americana, brasileira ou, como neste caso, a alemã. Novidade, talvez, seja a abordagem e visão desse tipo de relacionamento, o qual a diretora e roteirista Maren Ade apresenta de maneira tão excepcional em Toni Erdmann (2016), um drama familiar alemão travestido de comédia. Ines (Sandra Hüller) é uma mulher difícil, gélida e distante. Executiva de negócios e muitas burocracias, sua vida parece fundamentada no trabalho. Distanciada da família, esse mundo perfeito e asséptico que ela desenvolveu para manter essa lonjura é colocado em xeque com a visita de seu pai, Winfried (Peter Simonischek). Ele é extrovertido e nada sisudo. Mas parece representar um passado irregular, sem decisões e seriedade que Ines tanto almeja. Chutado pela filha, Winfried retorna tempos depois como seu alter-ego, Toni Erdmann, um mentiroso compulsivo. Subentende-se uma missão de Winfried em trazer uma certa ternura e leveza aos dias da filha...

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Publicado por em abr 14, 2017 em Artigos |

1º Festival de Cinema de Lajeado reúne ótimos filmes em curta-metragem

1º Festival de Cinema de Lajeado reúne ótimos filmes em curta-metragem

Por Danilo Fantinel O 1º Festival de Cinema de Lajeado, realizado entre 30 de março e 1º de abril de 2017, foi marcado por excelente organização e curadoria atenta. Dos cerca de 300 inscritos, 55 curtas-metragens foram selecionados para integrar a programação. Animações, documentários, filmes ficcionais e experimentais surgiram na tela do Teatro da Univates projetando sobre a audiência a polifônica cultura brasileira. A maior parte dos curtas exibiu bom uso dos recursos audiovisuais. Naturalmente, alguns se destacaram por suas potencialidades artísticas, narrativas, discursivas ou técnicas. Porém, acima de tudo há entre eles idéias criativas que se resolveram em ótimos filmes. Este relato retoma alguns dos títulos mais marcantes. ANIMAÇÃO O projeto do meu pai, de Rosária Moreira Vencedor do prêmio indicado pelo júri da crítica, O projeto do meu pai, de Rosária Moreira (ES), é uma sensível, sensata e bem-humorada análise do relacionamento entre a cineasta e seu pai. Sonhador e inconsistente, afastado da família devido a uma relação amorosa fora do casamento, o homem é analisado pela...

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Publicado por em abr 12, 2017 em Artigos |

As Convergências dos Júris em Lajeado

As Convergências dos Júris em Lajeado

Por Jaqueline Chala O Primeiro Festival de Cinema de Lajeado estreou demonstrando musculatura suficiente para seguir adiante. Com mais de 300 filmes inscritos e 55 selecionados, o evento reuniu apenas curtas-metragens e trouxe a público uma mostra bem variada e de diversas regiões do país. Mais impactante ainda foi verificar como o Festival já nasceu conectado temática e esteticamente com algumas das principais polêmicas e linguagens do momento. A maratona de assistir 55 curtas-metragens em três turnos durante apenas dois dias acabou sendo vencida de forma não tão extenuante devido a qualidade da seleção. Os debates ao final de cada turno facilitaram a escolha final, pelo menos no caso do júri da ACCIRS e o próprio consenso em torno de três das cinco principais premiações demonstram o potencial destes filmes. Claro que entre tantas produções muitas acabaram relegadas pela impossibilidade de estabelecer novas formas de premiação. Boa Noite, Charles – ganhador do prêmio de Melhor Filme Dividido entre documentário, ficção, experimental e animação, o Festival pareceu especialmente concentrado em...

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Publicado por em abr 5, 2017 em Artigos |

Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé

Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé

O quarto longa-metragem da cineasta paulista Eliane Caffé é um trabalho ousado em que o cinema atua diretamente sobre o real, com autenticidade e força dramática. Misturando ficção e um registro documental marcante, o filme acompanha moradores de um prédio ocupado, no centro de São Paulo. A preparação do projeto levou dois anos e foi gerido por um coletivo que permitiu transformar todo o edifício (que é zona de conflito real) no set criativo da filmagem. Esse coletivo foi composto pela equipe de produção do filme, incluindo os atores José Dumont e Suely Franco; lideranças da FLM (Frente de Luta pela Moradia); refugiados e estudantes de arquitetura da Escola da Cidade. Exibido em 2016 na 40ª Mostra Internacional de São Paulo e na 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes, Era O Hotel Cambridge recebeu diversos prêmios, incluindo o Prêmio Fipresci da Crítica no 18º Festival Internacional do Rio de Janeiro e do Júri da Crítica organizado pela Abraccine no 11º Fest Aruanda, onde também ganhou Melhor Filme. Trazemos dois...

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Publicado por em fev 20, 2017 em Artigos |

John Wick: Ecos de um Passado Cinematográfico

John Wick: Ecos de um Passado Cinematográfico

Por Adriano de Oliveira Pinto John Wick: Um Novo Dia para Matar (2017) não constitui simples entretenimento ou filme de violência tão desenfreada quanto gratuita, embora possa, num primeiro olhar, assim parecer. Sua ação é cuidadosamente coreografada, com uma fotografia caprichada, design de som detalhista e apuro técnico. Isso já diferenciaria o longa dirigido pelo norte-americano Chad Stahelski de similares menos elaborados. Porém, é seu diálogo com o cinema de outrora que lhe torna mais interessante e merecedor de algumas observações. Há referências cênicas nessa obra a pelo menos três filmes clássicos. A primeira, direta, reside na sequência que abre o novo John Wick, onde há uma gigantesca projeção de uma fita muda protagonizada por Buster Keaton na fachada de um prédio. A segunda é mais discreta, traçando um paralelismo entre os significados dos pombais de Joey (Ben Wagner, em Sindicato de Ladrões, de Elia Kazan, 1954) e do personagem interpretado por Laurence Fishburne no longa de Stahelski. A terceira se mostra evidente. Depois que Orson Welles filmou a...

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Publicado por em dez 27, 2016 em Artigos |

Entre Lúcida e Rosinha, por Ivonete Pinto

Entre Lúcida e Rosinha, por Ivonete Pinto

  Lúcida (SP), curta-metragem dos diretores Fábio Rodrigo e Caroline Neves, é de um arrojo formal e de uma contundência temática poucas vezes vista no Festival de Cinema de Gramado. Há quem o tenha odiado (termo usado por um convidado chileno do festival em conversa informal) por entender que o filme explora a miséria. Um estrangeiro talvez não tenha condições de atentar para a densidade e à carga de verdade que está em cena. Em enquadramentos rigorosos, plásticos e informativos, vemos a solidão em curso de uma mulher abandonada pelo pai de seu filho recém-nascido. Uma progressão construída ao reverso do tempo: conhecemos como a mulher chega no atual estado de desespero por imagens do bebê registradas em celular e imagens de ecografia do feto. Também temos acesso aos sentimentos do jovem mostrados de maneira  não plana, ou seja, alguém que expõe seus motivos para não querer ser pai, sem sentimentalismo ou julgamento. O cenário é um casebre na periferia de São Paulo, onde, até antes das filmagens,  viveram...

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