Páginas
Seções

Publicado por em mar 25, 2014 em Artigos |

Amantes inconstantes (Sobre o Exercício da Crítica Cinematográfica)

por Marcus Mello No início dos anos 80, não havia diretor mais incensado que o italiano Ettore Scola. Eu lembro bem, porque foi mais ou menos nessa mesma época que começou também minha conversão definitiva à cinefilia. Naquele tempo, Scola era um cineasta incontornável para qualquer cinéfilo que se prezasse. Com apenas 17 anos, eu próprio já havia assistido a Nós que Nos Amávamos Tanto (C´Eravamo Tanto Amati, 1974), Um Dia Muito Especial (Una Giornata Particolare, 1977) e Casanova e a Revolução (La Nuit de Varennes, 1982), três carros-chefe da filmografia de Scola. O melhor, porém, estava por vir. Em 1983, Scola estrearia O Baile (Le Bal), filme sem diálogos, no qual várias décadas de história da França eram contadas por meio dos encontros e desencontros de um grupo de personagens em um salão de baile. Não havia como discordar dos críticos: Scola era um gênio da sétima arte e O Baile, uma obra-prima indiscutível. Corte rápido. Início de 2008. Em sua coluna de filmes na TV no jornal...

Leia Mais

Publicado por em mar 25, 2014 em Artigos |

Na periferia do cinema

por Ivonete Pinto As extremidades marginais do cinema sempre existiram. Resistência à hegemonia do cinema americano e europeu, as cinematrografias periféricas, no entanto, só ganharam visibilidade e, eventualmente, alguma projeção, com as premiações em festivais de cinema como os de Cannes, Veneza, Berlim e Locarno, só para ficar entre os mais conhecidos, cujos programadores passaram a viajar um pouco mais longe em busca de novas linguagens, novas estéticas. Enfim, novos cinemas. Independente do aval desses festivais, vários países mantêm produções constantes, com números, às vezes, significativamente altos, como é o caso da Índia. Países que vivem sua cultura intensamente e, com ou sem subsídios governamentais, movimentam pequenas indústrias que geram emprego, abastecem o mercado local e regional – caso do Egito – e constroem gêneros narrativos recheados de uma criatividade que encanta platéias sedentas por exotismos ou, simplesmente, cansadas de velhas imagens. Talvez seja o que vem acontecendo com o cinema da Armênia, não em termos quantitativos, mas qualitativos. Enquanto tenta reconstruir o país após a independência da ex-URSS,...

Leia Mais

Publicado por em mar 25, 2014 em Artigos |

O cinema do segredo e do crime (Sobre Alfred Hitchcock)

por Enéas de Souza Temos em Alfred Hitchcock a criação do espetáculo para encarar o Horror, a Ameaça, que é insidiosa, e que vem, em Os Pássaros, da passagem metafórica de periquitos (Love Birds) para aves cada vez mais ameaçadoras, uma metamorfose, um translado, que finda com a plumagem da mais negra escuridão. Numa palavra: o triunfo dos corvos. E dos corvos que dominam – cena final – todo o espaço do cenário, por extensão, da catástrofe, do mal, da destruição, dominando o mundo. Mas Hitchcock não é um homem que prega declaradamente o catastrofismo. Ele mostra o desastre envolto em cores palatáveis, a densa construção da arte em tempos do espetáculo; só que, para ele, o espetáculo assume a natureza crítica. É espetáculo mais Guy Débord, é espetáculo mais juízo de valor. E avança, como uma seda inquietante sobre a visão do francês, porque trabalha com o estranho e com o mal-estar da cultura. E olha de frente as mudanças da sociedade contemporânea, sempre vista pelo lado antropológico,...

Leia Mais

Publicado por em mar 25, 2014 em Artigos |

Confissões de um homem maduro (Entrevista com Domingos de Oliveira)

por Daniel Feix e Roger Lerina A data para o bate-papo com o autor de mais de 50 peças, não poderia ser mais propícia: 27 de março, Dia Mundial do Teatro. No final da tarde da última quinta-feira, o dramaturgo, ator, diretor teatral, roteirista, cineasta, cantor e músico Domingos Oliveira conversou com Zero Hora no terraço de um hotel da Capital, ao lado de um piano e de costas para a tempestade que começava a se debruçar sobre a cidade. “Só a arte salva”, ele assegura, com um copo de uísque cheio na mão, preparado por Priscilla Rozenbaum. “Coloquei água, tá, amor?”, avisa a companheira de Domingos há 26 anos e atriz de seus filmes e espetáculos. “São 17h, e hoje você ainda precisa dar aula”, ela justifica. Aos 71 anos, o aforista de botequim e filósofo do cotidiano segue buscando a própria salvação, produzindo peças, escrevendo roteiros e rodando filmes como usina criativa incansável. Em Porto Alegre, acompanhou uma mostra de seus filmes, ministrou um workshop, apresentou um...

Leia Mais

Publicado por em mar 25, 2014 em Artigos |

Testemunhas do suicídio (A Ponte, 2006)

por Ticiano Osório Antes que você comece a ler este texto sobre o documentário A Ponte (The Bridge, EUA, 2006), inédito nos cinemas gaúchos e lançado diretamente em DVD, aviso: vou citar passagens que podem estragar o prazer cinematográfico de quem ainda não assistiu. Se é que pode haver “prazer” em um filme sobre suicídio – e eis um dos tantos pontos polêmicos da estréia como diretor de Eric Steel, co-produtor de outros dois longas de temática mórbida, As Cinzas de Ângela (de Alan Parker) e Vivendo no Limite (de Martin Scorsese), ambos de 1999. Mas, enfim, o que se propõe aqui é menos um comentário e mais uma conversa sobre o filme. A ponte do título é a famosa Golden Gate, em São Francisco (EUA). Já entrando no terreno das interpretações, também poderia ser a ponte para outra vida. Um dos entrevistados por Steel arrisca uma explicação sobre o fascínio que a ponte exerce sobre os suicidas: “Ela contém uma falsa promessa romântica”. Outro diz entender porque o...

Leia Mais

Publicado por em mar 25, 2014 em Artigos |

Um clássico para sempre moderno (Acossado, 1959)

por Flávio Guirland Falar de Acossado, de Jean-Luc Godard, pressupõe um risco. Não só porque o filme foi um “divisor de águas” que marcou verdadeiramente a entrada do cinema no âmbito das narrativas da modernidade, mas também por ter sido uma das obras mais comentadas de todos os tempos. O filme foi um dos primeiros da Nouvelle Vague, o movimento liderado por jovens críticos de cinema que escreviam na revista Cahiers du Cinema, encabeçada pelo notório André Bazin. Esses novos realizadores visavam, acima de tudo, a romper com as convenções instituídas por aquilo que eles chamavam de “o cinema do papai” (le cinema de papa), isto é, as produções insuportavelmente conservadoras do cinema francês e, de quebra, a estabelecer um contraponto estilístico ao cinema comercial produzido por Hollywood. O seu lançamento, no já distante ano de 1959, configurou-se como um ato de ousadia e, como era de se esperar, suscitou discussões apaixonadas. Havia os que o defendiam, em consonância com seu caráter revolucionário. Havia aqueles que o atacavam, em...

Leia Mais