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Publicado por em mar 24, 2014 em Artigos |

Um homem dominado por suas obsessões (O Homem Urso, 2005)

por Cristian Verardi O cineasta alemão Werner Herzog, seja na ficção ou no documentário, sempre utilizou sua câmera como uma arma para dissecar os conflitos internos de suas personagens. A ganância e o progressivo enlouquecimento de Klaus Kinski em Aguirre, A Cólera dos Deuses (1972), ou o processo que vai da total alienação do mundo ao desabrochar da consciência pelo qual passa Bruno S, em O Enigma de Kaspar Hauser (1974), são exemplos de seu cinema intimista e anárquico, que reflete tanto a construção como a diluição do indivíduo. Em O Homem Urso, Herzog volta suas lentes de documentarista para a trágica história do ambientalista amador Timothy Treadwell, que passou 13 verões consecutivos em companhia de ursos pardos no Alasca, até ser, junto com sua companheira Amie Huguenard, pateticamente devorado por um deles. É compreensível o interesse de Herzog pela desastrada empreitada de Treadwell, que sintetizou em vida os paradoxos ficcionais do cineasta alemão. Quando decidiu dedicar sua vida à proteção dos ursos pardos, Timothy Treadwell acabou abdicando de...

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Publicado por em mar 24, 2014 em Artigos |

Helena (quase) na intimidade (Dona Elena, 2004)

por Daniel Feix Documentário é linguagem. Qualquer realizador que desconhecer esta premissa estará fazendo, por princípio, um filme contestável. De que valeria um documentário com a forma de uma reportagem do Globo Repórter? O que faria em uma sala de cinema, no circuito alternativo (é ali que passam os documentários), um filme que não se propusesse a ser autoral, mas tão-somente a registrar um fato ou apresentar um personagem? Um documentário, um filme-documentário, jamais vale apenas pelo seu tema, pelo seu objeto de documentação. Seu valor está sempre na interpretação do autor sobre esse tema-objeto, na forma, na maneira com que o documentarista o apresenta. Eduardo Coutinho criou um jeito único de fazer filmes. João Moreira Salles inventa e reinventa suas narrativas a cada produção. Jorge Furtado e Fernando Birri fizeram as duas maiores referências do documentário dos lados de cá e de lá do Rio da Prata testando os limites da linguagem, indo até onde a realidade se confunde com a ficção (Ilha das Flores, do diretor gaúcho)...

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Publicado por em mar 24, 2014 em Artigos |

Entre paixão e amizade (Cidade Baixa, 2005)

por Adriano de Oliveira Pinto Cidade Baixa, estréia em longa-metragem do diretor Sérgio Machado, trata da história de um triângulo amoroso envolvendo dois amigos fraternais que vivem de trampos e golpes (os ótimos Lázaro Ramos e Wagner Moura, dois dos melhores atores da novíssima geração do cinema brasileiro) e uma stripper (Alice, sobrinha de Sônia Braga, em grande desempenho) que se interpõe entre eles. O cenário dessa ciranda amorosa é, na maior parte das vezes, a zona portuária de Salvador, nos dias atuais. Dados tais personagens e ambientação, temos ingredientes para uma trama pontuada de um intenso naturalismo. Não necessariamente o naturalismo de Zola, mas um bem tropical, mais próximo de nossos Aluísio de Azevedo e Julio Ribeiro. Desta forma, Cidade Baixa parece um filme-tese. E ele o é, de certa maneira, embora não seja originalmente concebido para sê-lo, pois como seu diretor afirma, acima de tudo trata-se de uma história de pessoas, essencialmente humana. Em suma, tal película vai além de sua motivação inicial, o que por si...

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Publicado por em mar 24, 2014 em Artigos |

Would you erase me? (Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, 2004)

por Roberta Pinto Charlie Kauffman é o cara. Um sujeito barbudo, baixinho, culto, tímido e introspectivo, com uma das mentes mais criativas que surgiram no circuito independente de Hollywood nos últimos anos. Com experiência razoável como roteirista de televisão, Kauffman estreou na tela grande com o original Natureza Quase Humana, dirigido pelo francês Michel Gondry, responsável por vários clipes da Bjork e da banda Dafta Punk, por exemplo. Já no seu primeiro roteiro para o cinema, Kauffman apresenta elementos que se repetem nos seguintes: personagens muito bem construídos e o bizarro. Sim, o bizarro aparece na mulher que tenta eliminar os pêlos que não param de crescer no seu corpo em Natureza Quase Humana; no portal que permite a entrada na mente de um dos atores mais famosos do cinema em Quero Ser John Malkovich; no roteirista que não consegue adaptar um livro sobre orquídeas para o cinema em Adaptação; e no criador de programas de calouros na TV norte-americana que também é um assassino da CIA em Confissões...

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Publicado por em mar 24, 2014 em Artigos |

Pierino Massenzi: memória viva da Vera Cruz

por Laura Cánepa O cenógrafo e artista plástico italiano Pierino Massenzi, nascido em Roma em 1925 e radicado no Brasil desde 1947, deixou sua marca no cinema brasileiro como diretor de arte, cenógrafo e desenhista de produção de 47 longas-metragens realizados entre 1949 e 1973. Entre os filmes em que trabalhou, estão clássicos do cinema nacional como O Cangaceiro, Tico-Tico no Fubá, Ravina, O Assalto ao Trem Pagador, Noite Vazia, entre muitos outros. Por seu trabalho, recebeu quatro prêmios Saci, dez prêmios Governador do Estado de São Paulo e três prêmios da Associação de Críticos de Cinema do Estado de São Paulo. Aos 83 anos e afastado do cinema há mais de 30, Massenzi nos recebeu em sua chácara na cidade de São Bernardo do Campo e revelou, nesta entrevista, sua história de vida, seu método de trabalho e muitas histórias sobre os conturbados bastidores da principal empresa em que trabalhou: a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, fundada em São Bernardo do Campo em 1949 com o objetivo de consolidar...

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Publicado por em mar 24, 2014 em Artigos |

Revolução Tailandesa (sobre Apichatpong Weerasethakul)

por Daniel Feix O professor Armindo Trevisan, um dos nossos maiores especialistas em cultura oriental, é quem ensina: o primeiro passo para tentar entender a arte do Oriente é se despir despudoradamente das convicções e mesmo das experiências vivenciadas com a arte ocidental. Só uma re-sensibilização plena pode nos indicar o caminho para a fruição da produção japonesa, chinesa ou coreana – cânones do Ocidente seguem princípios estéticos tão distintos que, em vez de servirem de guia, não passam de ruídos a atrapalhar o entendimento do público. No caso do tailandês Apichatpong Weerasethakul, a lição vale em dobro: além de estar diante de um cineasta de uma escola completamente desconhecida, ao assistir a um de seus filmes o espectador está frente a uma obra rara, que, como poucas outras, aponta novas possibilidades para a linguagem do cinema. Weerasethakul foi o astro do ciclo Ásia: A Nova Onda Oriental, composto também por filmes de Hou Hsiao-hsien e Jia Zhang-ke, entre outros, que esteve em cartaz em novembro na Sala P.F....

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