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Publicado por em ago 25, 2021 em Artigos |

“Carro Rei” e os santos motores

“Carro Rei” e os santos motores

Por Pedro Butcher O cinema fantástico sempre foi presente na produção brasileira, mas, recentemente, tem expandido sua presença com o surgimento de uma geração que alimenta enorme entusiasmo pelas possibilidades do formato. Nesse sentido, a presença de “Carro Rei” na competição do último Festival de Gramado, um dos mais tradicionais eventos de cinema do país, é especialmente notável – algo reforçado com a vitória do filme, vencedor de quatro Kikitos pelo júri oficial, incluindo o de melhor longa-metragem nacional. O “rei” do título é um táxi velho que tem voz e alma para o jovem protagonista Uno (Luciano Pedro Jr). Foi nele que Uno nasceu (e por causa disso ganhou esse nome) e foi nele que sua mãe morreu, em um acidente estúpido. Com a ajuda de um tio mecânico (Matheus Nachtergaele), Uno recupera o táxi em ruínas (abandonado depois do acidente que matou sua mãe) e o transforma em uma criatura majestosa. Juntos, passam a liderar uma rebelião silenciosa (para os que não escutam os carros), em que...

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Publicado por em ago 25, 2021 em Artigos |

Impressões vindas de um sofá

Impressões vindas de um sofá

Por Paulo Casa Nova “Eu não sou um Robô”, de Gabriela Lamas e “Desvirtude”, de Gautier Lee, foram os curtas vencedores e já os via como favoritos, uma vez que também foram selecionados para a competição nacional. Não é uma garantia de sucesso, mas é um indicativo. Dos longas gaúchos, “Cavalo de Santo”, de Mirian Fichtner e Carlos Caramez, um documentário sobre as práticas religiosas afro-brasileiras, foi o vencedor. Vejo “Cavalo de Santo” como um filme que informa a situação dos ritos africanos, denuncia o racismo sem desistir da beleza e da alegria da cultura negra. Entre os curtas metragens nacionais, “Entre Nós e o Mundo” (SP), de Fabio Rodrigo, ganhou quatro prêmios. Seu filme é uma denúncia ao racismo que retém força dramática e política sem perder o afeto, mantendo um equilíbrio delicado entre política e estética que é a razão de sua força como obra de arte. A competição de longas latinos foi dominada pela comédia uruguaia “La teoria de los Vidrios Rotos” (Uruguai), de Diego Fernández...

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Publicado por em jul 22, 2021 em Artigos |

Quebrar as embarcações

Quebrar as embarcações

por Pedro Henrique Gomes A Edição Especial da OHUN, que celebra os 5 anos Mostra de Cinema Negro de Pelotas, realizada em junho deste ano, trouxe um panorama curioso das formas e narrativas negras audiovisuais contemporâneas. Há um mundo em vias de ser evocado, convocado a participar de um registro convexo, historicamente fora do lugar, repleto de mistérios, paixões, subversões, alegorias, musicalidades, ritmos, mas que também está implicado em conhecidos (e apenas superficialmente assumidos como tal) rituais de violência espetaculares e assassinos que insistem em ferir os mesmos corpos. Nessa história toda, se há algo de simples é o olhar inacabado, incompleto e, paradoxal que seja, ingenuamente caridoso que é lançado diante de todo mal do mundo por meio de estruturas televisivas, discursos midiáticos e práticas cotidianas reais. O mundo, aqui, é o Brasil. Mundo erguido de tal forma que não suporta, em suas bases de conhecimento e construções intelectuais, que se fale em raça e em racismo – exceto por meio de chaves estrategicamente voltadas a mover o...

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Publicado por em jun 21, 2021 em Artigos, Críticas |

Um rasgo como justiça cinematográfica

Um rasgo como justiça cinematográfica

por Renato Cabral Em sua entrevista ao Roda Viva em junho de 2021, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie relatou que ao chegar ao Brasil e buscar a tão bem vendida diversidade, acabou surpreendida ao estar em um restaurante e notar algo muito diferente das suas expectativas. Adichi logo identificou que não havia nenhum negro brasileiro a frequentar o estabelecimento. Foi aí que ela percebeu que a diversidade bem vendida lá fora não era tão verdadeira assim quando chegou aqui. Ela concluiu que quando em um país com uma expressiva população negra não consegue colocar os seus cidadãos negros em posições de poder, algo de errado há. Para alguns pode ser que Chimamanda teve um desencontro, mas usar desta justificativa só serviria para suavizar mais uma metáfora importante que a escritora nos apresenta. Não precisaríamos fazer uso das reflexões de Adichie para notar os abismos e segregações que foram construídos e se perpetuam de maneira velada há centenas de anos, elas são fendas visíveis em nossa sociedade. Porém são...

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Publicado por em jun 21, 2021 em Artigos, Críticas |

Perpétuo (2018), Lorran Dias

Perpétuo (2018), Lorran Dias

por Juliana Costa Em algum momento do filme Perpétuo (2018), de Lorran Dias, exibido na Edição Especial da Ohun – Mostra de Cinema Negro de Pelotas, abre-se uma cortina. Após o sobrevôo do olhar identificar entidades em meio às ruínas de um casarão, um corte revela uma personagem, também entidade em cena anterior, abrir dois lençóis a emoldurar um homem e uma mulher conversando em uma cena doméstica. É nesta construção que Perpétuo nos insere ao longo de seus 24 minutos: na encenação do cotidiano. Construção também parece ser a palavra exata. O filme se passa em parte em uma casa em construção, em direção ao futuro, enquanto um outro mundo, localizado no passado provavelmente, se pronuncia em meio a ruínas. Não sabemos o quanto um interfere no outro, mas sabemos como a encenação do dia a dia interfere naqueles personagens e mais, na própria percepção do diretor. O filme vai ficando cada vez mais explícito nas suas construções de cena. Uma dupla de amigos troca carinho sob a...

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Publicado por em jun 21, 2021 em Artigos, Críticas |

Cinema doble chapa é ohùn

Cinema doble chapa é ohùn

por Ivonete Pinto Além da Fronteira (Alexandre Mattos Meireles, 2021, 21’) pode ser lido por várias chaves. Provavelmente as mais diretas se concentrem na relação de um pai e de uma filha e nas relações “sanguíneas” dos povos de fronteira. Vinculado a estes temas, o filme igualmente aborda a crise econômica do ponto de vista de um operário da construção civil, na verdade um faz-tudo porque precisa viver se adaptando. Edmilson (Hilton Oliveira) perde a esposa (as circunstâncias da morte não são explicadas no filme) e precisa cuidar sozinho da filha Clara, de 11 anos (Clara Meireles). Ele perde também o emprego e não consegue sequer pagar o aluguel. A situação fica mais difícil porque usa como válvula de escape a bebida, que só piora a relação com a filha. Ao mesmo tempo, graças às cobranças de Clara por uma mudança de atitude, decide ir embora. É logo ali, passando a fronteira de Jaguarão (RS) para Rio Branco (Uruguai), que os dois vão encontrar abrigo em uma família doble...

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