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Publicado por em out 5, 2020 em Artigos |

Martín Desalvo e o Jaguaretê

Martín Desalvo e o Jaguaretê

Por Caroline Zatt da Silva, integrante do Júri da crítica Accirs/Abraccine do 48º Festival de Cinema de Gramado A simbologia de um animal como protagonista em El silencio del cazador. Assim como um caçador em meio à selva põe-se à espreita e segue rastros da sua presa, do mesmo modo o grande protagonista do longa argentino El Silencio del cazador é apresentado ao espectador pelo diretor e roteirista Martín Desalvo: por vestígios (de inspiração derridiana?). Nem mesmo seu nome é dado corretamente pelos diálogos do filme, poucas vezes, o chamam erroneamente de tigre. Posto que um animal feroz estaria atacando rebanhos da região, dá-se a entender que um confronto antigo retorna ao presente: o guarda florestal que quer proteger a fauna do parque e o fazendeiro-herdeiro que anseia defender seus interesses econômicos. No passado, a briga entre eles foi por uma mulher: a médica rural Sara, que foi namorada de Polaco, o descendente dos colonizadores brancos, e hoje é casada com Guzmán, filho de um migrante paraguaio trabalhador. Percebe-se...

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Publicado por em out 5, 2020 em Artigos |

Road movies pela mesclada América Latina

Road movies pela mesclada América Latina

Por Caroline Zatt da Silva, integrante do Júri da crítica Accirs/Abraccine do 48º Festival de Cinema de Gramado Único documentário da Mostra Competitiva de Longas Gaúchos, venceu o Kikito de Melhor Filme Portuñol, dirigido, também, pela única mulher entre os realizadores das obras concorrentes. Influenciada pela Antropologia, Thais Fernandes, como diretora, é focada em narrativas documentais e se concentra na mágica relação de ouvir o outro. No seu trajeto de viagem pelas fronteiras do Brasil com países vizinhos, filme joga luz sobre a latinidade que une personagens diversos nesses territórios. A cineasta Thais Fernandes havia ganhado a Mostra Gaúcha de Curtas do Festival de Cinema de Gramado em 2018, com o documentário Um corpo feminino, saindo da serra com o troféu e muitos elogios. O filme seguiu o circuito de festivais, e ganhou visibilidade em eventos para discutir a questão de gênero. Agora, com seu primeiro longa, Portuñol, também documental, ela concorreu na 48ª edição do evento, com mais quatro títulos, ao Kikito de melhor título em longa-metragem produzido no...

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Publicado por em out 1, 2020 em Artigos |

Fragmentos ao Vento 1945

Fragmentos ao Vento 1945

Por Chico Izidro, integrante do Júri Accirs que concedeu o prêmio da crítica ao filme Fragmentos ao Vento 1945 na Mostra Gaúcha de Curtas – Prêmio Assembleia Legislativa, no 48º Festival de Gramado. Fragmentos ao Vento 1945, apresentado na Mostra Gaúcha de Curtas, no 48º Festival de Gramado, e dirigido por Ulisses da Motta, é um trabalho que pode ser considerado primoroso, desde a sua estrutura narrativa, passando pela excelente reconstituição de época, que é de encher os olhos. O cuidado estético poucas vezes visto em um filme de pouco menos de 20 minutos merece aplausos. Como destaca o título, a trama se passa em 1945, ano crucial para a história da humanidade, pois marcou o fim da II Guerra Mundial, que teve seus efeitos respingando no Brasil. O país vivia desde 1937 sob a ditadura Vargas, que estava no poder desde 1930. No começo do conflito mundial, Getúlio Vargas, gaúcho de São Borja, manteve namoro com a Alemanha nazista, mas a partir de 1942 acabou, com incentivos norte-americanos,...

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Publicado por em ago 19, 2020 em Artigos, Críticas |

“Barry Fritado” e o alienígena sul-africano bonzinho

“Barry Fritado” e o alienígena sul-africano bonzinho

Ivonete Pinto Existem pelo menos duas grandes forças nos filmes fantásticos: a capacidade de transmissão de ideias através de metáforas e a liberdade  narrativa sem limites. Metáforas, por si só,  não dotam os filmes de qualidade, mas quando trazem recados importantes, funcionam de diversas formas na recepção do público, operando então funções políticas que não devemos negligenciar. George Romero e sua trilogia dos mortos  tem lugar garantido na história do cinema. Sua visão da Guerra Fria, da energia nuclear, do racismo ignóbil da sociedade norte-americana são exemplos dos temas contrabandeados no enredo de zumbis em sua obra prima A Noite dos Mortos Vivos (1968). Já o exemplo de liberdade narrativa pode estar  em Barry Fritado, exibido na 16ª edição do Fantaspoa ─ que premiou  Garry Green, o protagonista , como melhor ator ─, e igualmente exibido no festival virtual de Cannes em junho deste ano.  Barry Fritado (Fried Barry,  Ryan Kruger, 2020), é a versão estendida de um despretensioso curta com o mesmo nome, mesmo ator,  rodado dois anos...

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Publicado por em jul 21, 2020 em Artigos, Em destaque |

Das salas de cinema para o streaming: como ressignificar a condição de espectador e crítico a partir da pandemia?

Das salas de cinema para o streaming: como ressignificar a condição de espectador e crítico a partir da pandemia?

Por Matheus Pannebecker, jornalista e crítico de cinema, escreve desde 2007 no site Cinema e Argumento e tem quase 10 anos de experiência em assessoria de imprensa, produção de conteúdo e gestão de relacionamento. É pós-graduando em Influência Digital: Conteúdo e Estratégia na PUCRS A pandemia do Coronavírus colocou o mundo de pernas para o ar e fez o isolamento social se tornar um dos pilares de prevenção e contenção em um cenário indiscutivelmente grave. Para os bem afortunados, privilegiados e empáticos que tiveram condições de aderir às medidas de isolamento, importantes reflexões vêm se apresentando quando o único universo físico que habitamos é a nossa própria casa. Afinal, sem o que realmente não conseguimos viver? Quais hábitos podem ser substituídos? Como adaptar para dentro de casa aquilo que nos deixa minimamente em dia com a nossa sanidade? Pertencendo a esse grupo que se viu repentinamente isolado, descobri que posso, na medida em que o contexto exige até segunda ordem, viver sem muitas coisas, como um passeio de bicicleta...

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Publicado por em jul 17, 2020 em Críticas |

Passagem em aberto

Passagem em aberto

Maurício Vassali “Maria estava parada há mais de meia hora no ponto de ônibus. Estava cansada de esperar. Se a distância fosse menor, teria ido a pé. Era preciso mesmo ir se acostumando com a caminhada. O preço da passagem estava aumentando tanto! Além do cansaço, a sacola estava pesada.”. O que a Maria escrita por Conceição Evaristo enfrenta a partir de aí é a própria tragédia, diferente da trajetória da personagem, de mesmo nome, escrita por Juliana Balhego em Quero ir para Los Angeles. A conversa entre o curta e o conto presente na coletânea Olhos D’água, contudo, está para além da simples coincidência de Marias protagonistas e da menção de Evaristo no filme: ambas as autoras retratam vivências de mulheres negras contemporâneas. A primeira como empregada doméstica, a segunda como universitária. No curta, Maria é uma estudante de publicidade que planeja sua viagem à cidade dos sonhos. Moradora da periferia de Porto Alegre, ela divide seu tempo entre o estágio em uma agência e o novo emprego...

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