Crítica: Dor e Glória
Por Chico Izidro
O diretor espanhol Pedro Alçmodóvar apresenta em Dor e Glória (Dolor y Gloria) um de seus melhores filmes dos últimos anos. A trama é quase que autobiográfica, mostrando um diretor de cinema em período de falta de criatividade, que solitário, passa a relembrar sua vida e carreira desde sua infância pobre no interior da Espanha, ao lado dos pais.
Antonio Banderas vive o protagonista Salvador Mallo, atormentado por todo tipo de doenças físicas, depressão e ansiedade. Após 30 anos, uma de suas obras é restaurada e reconhecida pelo público como um clássico. Motivo pelo qual ele se reaproxima do ator principal, Alberto (Asier Etxeandia). À época do lançamento, Salvador não aprovou a atuação do ator, mas reviu seus conceitos e o procura para fazer as pazes. Quando Alberto retorna à sua vida, nela também entra o vício em heroína, para atormentá-lo mais ainda.
Dor e Glória também mostra o passado em flashbacks, onde Salvador relembra de sua mãe, trabalhadora, afetuosa e protetora. Jacinta ganha uma interpretação vigorosa e cativante de Penélope Cruz – atriz que confesso tinha uma certa bronca há alguns anos. Mas suas atuações vêm surpreendendo.
Já Antonio Banderas, revelado para o grande público exatamente pelos trabalhos com Almodóvar nos anos 1980, proporciona como Salvador uma das performances mais inesquecíveis de sua carreira. Ele consegue passar para o espectador toda a emoção de uma pessoa que sofre em silêncio, com olhares e gestos únicos.
Dor e Glória acaba sendo um dos melhores trabalhos de Pedro Almodóvar, que abre seu coração, refletindo sobre a sua própria vida – desde a pobreza na infância, o ensino em escolas de padres, a homossexualidade, o afeto da mãe. Espetacular.