Sessão com debate de O Último Poema
A Seleção de Cinema Brasileiro no Cine Santander exibe nesta quinta-feira, 9 de fevereiro, às 19h, o filme que registra a correspondência entre uma professora do interior do Rio Grande do Sul e o poeta Carlos Drummond de Andrade. Após a sessão haverá debate com a diretora e roteirista Mirela Kruel e o diretor e produtor Fabiano Florez, que atuou na produção executiva de O Último Poema. Reproduzimos texto de Mônica Kanitz, publicado por ocasião da estreia.
A força da poesia
Mônica Kanitz – Metro Jornal em 28/10/2015
A gaúcha Helena Balbinot, hoje professora aposentada, protagonizou uma vida absolutamente convencional para a maioria das mulheres da sua geração: foi uma filha obediente, fez o curso normal, casou cedo e construiu uma família. Mas o interesse pela poesia fez com que ela vivesse um capítulo “fora da curva”, construído por meio de uma longa amizade com o poeta Carlos Drummond de Andrade. Era o tempo das cartas bem escritas, que iam e vinham respeitando o seu tempo, e assim eles se corresponderam durante 24 anos. Ela em Guaporé, ele no Rio de Janeiro. O detalhe é que nunca se conheceram pessoalmente.
Descoberta numa reportagem, a personagem de Helena fascinou a cineasta Mirela Kruel, que transformou a história no filme O Último Poema. O longa foi lançado em outubro de 2015, às vésperas do aniversário do poeta – ele nasceu em 31 de outubro de 1902, em Itabira, interior de Minas Gerais. “Assim como para Helena, a poesia também é muito importante na minha vida. Eu quis saber mais sobre a vida desta mulher, que queria escrever poesia mas acomodou este sonho tão pessoal para construir um projeto de família”, explica Mirela.
A princípio pensado para ser um curta-metragem, O Último Poema foi ganhando a força dos seus personagens e se transformou num documentário de 70 minutos. Além do depoimento emocionado de Helena, gravado no sugestivo ambiente da Biblioteca Pública do Estado, e de ter acesso à poesia contida nas cartas de Drummond, o espectador é levado por um passeio visual igualmente poético. A cineasta encontrou ao pé de um carvalho, nos campos de Cambará, o cenário cheio de significados para as trocas escritas de Helena e Drummond, revisitados pelos atores Janaina Kremer e Rodrigo Fiatt – que encarna o poeta com a devida elegância.
Um desafio para Mirela Kruel foi encontrar o tom certo das lembranças da protagonista, já que Helena guardou todas as cartas que recebeu de Drummond – a correspondência enviada por ela para o RJ, infelizmente, não está catalogada na Fundação Rui Barbosa, que guarda o acervo do poeta. “A Helena literalmente teve que nos contar o que escreveu para ele. Ela foi de uma emoção e confiança absolutas”, destaca a diretora.