Teorema 15 anos
A revista Teorema Crítica de Cinema marca os 15 anos de existência com o lançamento da 28ª edição. Publicação impressa, sem patrocinadores e de conteúdo exclusivamente de reflexão sobre cinema, é editada e tem entre os colaboradores associados da Accirs.
A longevidade é comemorada pelos editores Enéas de Souza, Fabiano de Souza, Flávio Guirland, Ivonete Pinto, Marcus Mello e Milton do Prado com a abordagem de produções que investem na contestação, na busca das raízes históricas dos conluios políticos e na tentativa de dar voz aos marginalizados. O minucioso olhar que Enéas de Souza lança para Cinema Novo, de Eryk Rocha, é a porta de entrada para um cinema nacional preocupado com questões candentes. A ausência de moradia e as ocupações urbanas povoam Era o Hotel Cambridge, analisado por Luiz Zanin Oricchio; a perpetuação dos massacres indígenas sangra em Martírio, analisado por Pablo Gonçalo; a desmistificação dos heróis nacionais e a relevância do papel das mulheres negras aparecem em Joaquim, investigado por Roger Lerina.
O pampa revisitado numa visão contemporânea aparece em Mulher do pai e Rifle, examinados por Ivonete Pinto. Cidades Fantasmas e seus locais abandonados pelo capitalismo predatório inspiram o texto de Giordano Gio.
Em uma longa entrevista Walter Lima Jr. revê sua trajetória, iniciada no Cinema Novo. Teorema ainda recupera o texto amoroso de Carlão Reichenbach, escrito em jorro à época do lançamento do lírico A Ostra e o Vento. Fechando o segmento brasileiro, Daniel Caetano se debruça sobre o mais recente filme do ecumênico Walter Lima, Através da sombra.
Enquanto o cinema americano chega pelo fenômeno La la land, na visão do crítico Martín Alomar, a produção europeia marca presença relevante na edição. Fabiano de Souza debate o drama social Eu, Daniel Blake; Milton do Prado enfrenta o erotismo contraditório de Elle; Bruno Ghetti mergulha na filosofia melancólica de O que está por vir e Marcus Mello se depara com a inquietude ̶ existencial, sexual, religiosa ̶ de O ornitólogo.
A revista encerra com foco no cinema oriental de gênero. Pedro Butcher, durante o Festival de Macao, entrevistou Kiyoshi Kurosawa, cujo Creepy é o tema do artigo de Gabriel Carneiro. Já Invasão zumbi ̶ e sua mistura de ação, horror e drama familiar ̶ é desvendado pelo olhar atento de Marcelo Miranda.
Na capa de Flávio Wild, a sempre soberba Isabelle Huppert em Elle, de Paul Verhoeven (2016)
Pesquisa de imagens: Renato Cabral
Projeto Gráfico e Editoração: Gustavo Demarchi
Teorema pode ser encontrada na rede de Livrarias Cultura e na Livraria Bamboletras – Centro Comercial Nova Olaria (Rua General Lima e Silva, 776 Loja 3) – Fone: 51 3221-8764 – Porto Alegre
Valor: R$ 15,00
Histórico: Em 2001, ainda sob impacto do 11 de setembro, nascia o Núcleo de Estudos de Cinema de Porto Alegre, reunindo um grupo de pesquisadores, críticos e cineastas. Dele tem origem a revista Teorema – Crítica de Cinema, cuja primeira edição é de agosto de 2002 e cujo nome faz homenagem ao filme de Pasolini (1968), tendo na capa a protagonista Laura Betti. A ideia era criar uma publicação que propiciasse o aprofundamento normalmente associado à academia, e ao mesmo tempo que tivesse uma linguagem acessível para ser vendida em bancas de revista e livrarias. A formação original contava com Fabiano de Souza, Fernando Marcarello, Flávio Guirland, Ivonete Pinto e Marcus Mello. O corpo editorial mudou com o tempo, com a saída do Mascarello e a entrada de Enéas de Souza e Milton do Prado.
Nestes 15 anos de atividade, sempre com capas criadas pelo artista gráfico Flávio Wild, a Teorema analisou centenas de filmes e entrevistou para as páginas centrais mais de 30 nomes da área do cinema, com destaque para as entrevistas com os teóricos Michel Marie, Raymond Bellour, Antoine de Baecque, Dudley Andrew, Ismail Xavier e Jean-Claude Bernardet. Entre os cineastas entrevistados, destaque para Andrea Tonacci, Carlão Reichenbach, Ruy Guerra, Beto Brant, Murilo Salles, Ana Luiza Azevedo, João Silvério Trevisan, Rithy Panh, Abbas Kiarostami, Amos Gitai, William Raban, Manoel de Oliveira, Fernando Solanas e Mohsen Makhmalbaf.
Publicada de forma independente, sem vínculo com instituições ou empresas, a continuidade da revista só é possível graças à participação colaborativa dos convidados de cada edição.
Embora considerando as dificuldades de distribuição e o custo de produção, os editores reafirmam a disposição de continuarem a trajetória da revista através do meio impresso. A perenidade do papel, mais do que um fetiche, ainda seduz os seis editores e seus fieis leitores.
Os editores:
Enéas de Souza – Autor de Trajetórias do cinema moderno (3ªedição) e de Cinema e Psicanálise; personagem do filme Os Filmes Estão Vivos; um dos organizadores do seminário Cinema e Psicanálise da APPOA e organizador do festival do cinema brasileiro na Maison du Brésil (Paris), professor do curso Filosofia e Cinema (PUCRS). É associado da ACCIRS
Fabiano de Souza – Doutor em Comunicação Social pela PUCRS, onde é professor do curso de Produção Audiovisual; diretor dos filmes A última estrada da praia (2010) e Nós duas descendo a dscada (2015) e autor do livro Caio Fernando Abreu e o cinema: o eterno inquilino da sala escura (2011)
Flávio Guirland – Mestre em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); professor de Roteiro e Fotografia Cinematográfica na ULBRA, atualmente trabalha no projeto de doutorado.
Ivonete Pinto – Jornalista, doutora em Cinema pela USP, docente no curso de Cinema e Audiovisual da UFPel, organizadora do livro, com Orlando Margarido, de Bernardet 80: Impacto e Influência no Cinema Brasileiro, sócia-fundadora das associações de críticos Abraccine e Accirs.
Marcus Mello – Mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS, organizou diversos livros da coleção Escritos de Cinema para a Coordenação de Cinema, Vídeo e Foto da Secretaria da Cultura de Porto Alegre; trabalha na Cinemateca Capitólio e é membro da Abraccine e Accirs.
Milton do Prado – Jornalista, mestre em Film Studies pela Concordia University (2011). É montador e sócio da Rainer Cine e coordenador do Curso de Realização Audiovisual da Unisinos.