Viagem onírica em universo real
Por Macus Santuário
Depois de vencer diversos festivais, como o Festival Internacional do Rio de Janeiro e de Punta del Este, “Os Famosos e os Duendes da Morte”, dirigido por Esmir Filho, chegou às telas em 2010 com um ar daquelas produções que têm espaço garantido no imaginário dos cinéfilos mais exigentes. Cercado de uma atmosfera que mescla imagens significativas com discursos já introjetados no imaginário de uma cidade interiorana, o filme é envolvente e ousado. Na trama, uma pequena cidade na geografia gaúcha que tem ascendência germânica serve de cenário para tratar de adolescência, buscas, horizontes possíveis e lembranças. Esmir é o diretor do famoso “Tapa na Pantera”, curta que foi sucesso de visualizações na Internet e também provocou ataques pelos que o consideraram uma apologia à maconha.
E foi com a audácia já conhecida que o diretor tomou o conteúdo do livro de Caneppele para refletir na tela sentimentos, pensamentos, medos e desejos de uma geração que trata de encontrar seu rumo entre o real e o imaginário no interior do Rio Grande do Sul. A amizade e as buscas de um menino sem nome que conhece a garota na virtualidade em que deixou imortalizada sua história em vídeos e fotos na Internet.
Guiado pela música de Bob Dylan, ele mergulha em suas lembranças e surge uma figura misteriosa para dar mais intensidade à trama. Estão presentes ali também sentimentos relacionados aos suicídios que ocorrem nos pequenos povoados. Caneppele é um “guri” que nasceu lá na região e resolveu escrever sobre questões de seu processo de vida, repetidas em outros jovens de sua idade e de seu contexto. Tal qual a realidade que se globaliza cada vez mais, o microuniverso transita entre o arcaico e o pós-moderno. Consiste também em ótimo exercício de reflexão afetiva sobre lembranças, desejos e buscas de uma geração que está envolvida, até sem entender bem, no universo da Modernidade Líquida de Baumann. Com todas as transitoriedades inerentes ao contexto hsitórico, social e cultural.