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Publicado por em mar 24, 2014 em Artigos |

Would you erase me? (Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, 2004)

por Roberta Pinto

13Charlie Kauffman é o cara. Um sujeito barbudo, baixinho, culto, tímido e introspectivo, com uma das mentes mais criativas que surgiram no circuito independente de Hollywood nos últimos anos. Com experiência razoável como roteirista de televisão, Kauffman estreou na tela grande com o original Natureza Quase Humana, dirigido pelo francês Michel Gondry, responsável por vários clipes da Bjork e da banda Dafta Punk, por exemplo.

Já no seu primeiro roteiro para o cinema, Kauffman apresenta elementos que se repetem nos seguintes: personagens muito bem construídos e o bizarro. Sim, o bizarro aparece na mulher que tenta eliminar os pêlos que não param de crescer no seu corpo em Natureza Quase Humana; no portal que permite a entrada na mente de um dos atores mais famosos do cinema em Quero Ser John Malkovich; no roteirista que não consegue adaptar um livro sobre orquídeas para o cinema em Adaptação; e no criador de programas de calouros na TV norte-americana que também é um assassino da CIA em Confissões de Uma Mente Perigosa. Esse mesmo bizarro aparece no roteiro de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, filme que, apesar de possuir na minha DVDteca, tive o prazer de rever pela milésima vez ontem à noite no Telecine Cult.

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças não pode ser explicado de maneira lógica, pois sua narrativa é fragmentada e exige atenção (e inteligência, viva, existe cinema para pessoas inteligentes também!), mas, em resumo, para quem ainda não viu, a trama é a seguinte: Joel (Jim Carrey, que pela primeira vez não faz caretas e atua de verdade com muita sensibilidade), um homem que leva uma vidinha comum e sem grandes emoções, conhece a tempestuosa e impulsiva Clementine (Kate Winslet), que muda de personalidade conforme muda a cor de cabelo. Depois de algum tempo de felicidade, a relação entre os opostos vai pelo ralo e o relacionamento acaba.

Até aí, parece um filme de romance qualquer, não parece? Só que estamos num roteiro de Charlie Kaffman, portanto prepare-se para o inusitado: a impulsiva Clementine decide então procurar uma clínica especializada em apagar as lembranças indesejáveis da memória, e deleta Joel definitivamente de sua vida. Ao descobrir o que a ex-namorada fez, Joel decide se vingar e fazer o mesmo. O problema é que sua mente lhe prega diversas peças durante o procedimento e Joel passa a travar uma intensa batalha contra os funcionários da clínica que estão dentro da sua cabeça para tentar salvar sua memória amorosa. Para piorar a situação, um dos funcionários da clínica se apaixonou por Clementine e tenta utilizar as memórias de Joel para conquistá-la.

Se o roteiro de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças é ótimo, a direção de Gondry também não fica atrás. As transições, os movimentos de câmera, os planos, os cortes, as sutis mudanças de fotografia, tudo isso faz parte do jogo para descobrir o que acontece dentro e fora da mente de Joel. Os atores também estão muito bem. Além do casal central Carey-Winslet, Mark Rufallo, Elijah Wood (pós-Frodo) e a chatinha da Kirsten Dunst completam o elenco.

Depois que o filme acaba, fica a questão: você apagaria suas lembranças simplesmente pelo fato de não serem felizes?

Texto publicado originalmente no blog Janela Indiscreta, da Rádio Gaúcha/ClicRBS. Texto de crítico integrante da ACCIRS já publicado em outro veículo da imprensa e autorizado para publicação no site da associação.

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind)
Direção: Michel Gondry
Roteiro: Charlie Kaufman
Com: Jim Carrey, Kate Winslet, Kirsten Dunst e Elijah Wood
País de produção: Estados Unidos
Ano de lançamento: 2004
Disponível em DVD no Brasil
Duração: 108 minutos